19 novembro 2011

ENQUANTO VOCÊ NÃO VINHA

(Mesmo depois de tanto tempo eu ainda me perguntava se você voltaria)

Me debrucei sobre a janela do quarto na esperança de a ver subir pela rua lateral que dava acesso à nossa casa. Fazia frio e tive que dar mais uma volta no cachecol. As pessoas circulavam com sacolas de mercados e outras carregavam seus guarda-chuvas para se protegerem do céu cinza enquanto você não vinha. Reparei que o semáforo da esquina ficava aberto aos carros por 1 em cada 3 minutos, o que dava 20 minutos em uma hora. Nesse tempo não a vi em nenhum dos carros que pararam no sinal e muito menos a vi atravessar a rua entre os pedestres.

Nena, não sei se você algum dia notou, mas alguns cantos da janela do nosso quarto necessitam de reparos. A tinta está velha e até consegui rabiscar seu nome depois de tanto repetir as formas das letras forjando com a unha do meu dedo indicador esquerdo. O único momento em que a fechei foi quando começou a chover. Logo pensei em sair ao seu encontro. Fiquei com medo de que você não tivesse como se proteger daquela água que caia intensamente. Cheguei a abrir a porta e apagar a luz da sala, mas fiquei com receio de que aquilo parecesse desespero e impedisse sua volta, pois você precisava der ar, não é?

Desisti e resolvi ir à cozinha preparar um café para nós dois, mas do jeito que você gostava. E ali fiquei esperando, sentado à mesa, enquanto a bebida esfriou, assim como esfriou minha esperança e não a vi voltar.

(Todas as manhãs ainda abro a janela e reparo nos rostos que cruzam o sinal. Nunca a reformei e seu nome continua lá rabiscado).

06 novembro 2011

DESPERTAR SAUDOSO

Levantei da cama na ponta dos pés e vesti-me com destreza, sem cometer movimentos bruscos. Levei meu all star branco pela mão e fechei vagarosamente a porta do quarto, evitando o menor ruído possível. Pensei ter saído sem acordá-la, enquanto ela lamentava a falta de meus braços.