29 agosto 2012

DO CINZA A OUTROS CAMINHOS INCERTOS

Nunca foi de sorrir por qualquer motivo. Desde sempre a achavam estranha por isso. “Ela parece estar sempre triste”, comentavam aos cantos. Realmente era. Mas não era assim uma tristeza ruim. Esse sentimento fazia parte dela, de seus dias, de suas músicas, livros, filmes, de seu jeito de sorrir. E, por incrível que pareça, era feliz desse modo. Para Mariana aquilo era tudo normal, era como gostar de dias frios e cinzas. Ver o céu gris se confundir com o mar era algo que lhe causava leveza. Sentava na areia e tentava adivinhar onde terminava um e onde começava o outro. Raramente conseguia, mas isso não importava. Preferia pensar que eram bons companheiros. Em dias assim sua mente flutuava, pairava sobre outros horizontes, pensava no não pensar em mais nada.

Mas certo dia Mariana acordou diferente, mais triste que de costume. Era difícil explicar isso também, pois desse tipo de tristeza ainda não tinha experimentado. Era daquelas que doem nos poros e deixam a gente sem vontade de viver, sem pensar no dia seguinte. Não sabia o que fazer. Ligou o rádio, tirou os livros da prateleira, começou a olhar fotos antigas, cartas. Nada adiantou. Não passava, nem um pouquinho. Ela mesma sentia que aquilo não era normal. Não conseguia se concentrar em nada. Tentou caminhar pra refrescar a cabeça. Também não resolveu. Sua mente pulsava. Acompanhava seus passos e as batidas ainda mais tristes de seu coração calejado.

Leu bulas na esperança de encontrar um remédio letal para aquela tristeza que desconhecia, a qual, sentia, pela primeira vez, que não lhe fazia bem. Pelo contrário, deixava seu peito sufocado. Nem isso deu certo. Resolveu então tentar escrever. Lembrou de quando era criança e buscava refúgio nos desenhos. Entretanto, não tinha mais habilidade com as pinturas. Se saia melhor com as palavras.

Assim, trancada no quarto, seu refúgio cotidiano, Mariana pegou uma folha em branco e começou a escrever sua tristeza. E era tanta... Viu logo que aquele pedaço de papel não seria suficiente. Pegou outros, outros e outros. Lá fora chovia, chovia bastante. Ela encheu centenas de folhas, cadernos, os espaços em branco de seus livros de cabeceira, as partes de trás das fotos antigas, das cartas, as paredes do quarto, as portas do guarda-roupa. Quanto mais escrevia mais sentia que necessitava escrever e mais lhe doía aquela tristeza diferente. Era estranho. O vazio no qual se transformou seu peito não enchia nunca.

Passou horas escrevendo e reescrevendo histórias e suas estórias. As letras a cercavam, alucinavam sua mente, embaralhavam seus olhos. Para onde olhasse via escritos das mais diferentes coisas, minúcias, passagens gigantescas.

E, depois de tanto escrever, escrever, escrever, Mariana cansou e sentiu que poderia escrever o mundo inteiro outra vez e mesmo assim aquela tristeza não iria embora. Aquilo não serviu nem mesmo como remédio para amenizar. Deitou e, antes que os olhos enchessem novamente de lágrimas, dormiu. A chuva que caía aumentou como se quisesse acompanhar o sentimento derradeiro de Mariana, e acabou por entrar pelas frestas de sua janela. A água começou a molhar as paredes embaralhadas de palavras de seu quarto e levar consigo cada sentimento, cada letra. E no fim, acabou por lavar cada canto. Escorria por debaixo da cama, passava ao lado de seu vasinho de pimenta – que também estava todo escrito, cada folha, cada galho -, ia em direção à sala, ao corredor do prédio, descia as escadas e formava um pequeno lago no quintal. Subia os muros altos e com grades do condomínio e voltava a descer, dessa vez com direção da rua.

Debaixo de seus guarda-chuvas, dentro de seus carros ou escorados em suas varandas, as pessoas não entediam o que viam. Era como se a água chorasse palavras de tristeza e escorre-se sem rumo e nem previsão de chegada.

19 agosto 2012

TALVEZ

Talvez nem fizesse tanta diferença se viesse a saber. Certo mesmo é que a cada vez que aparecia fazia nascer e renascer borboletas em meu estômago. E talvez nunca a viesse a saber.

14 agosto 2012

04 agosto 2012

QUE TU ME LEMBRAS

e quando eu estiver triste, meu amor,
não tentes colar um sorriso em meu rosto
não tentes colorir o meu desgosto.

apenas me traga um café,
sente ao meu lado
e me lembres,
com carinho...

que tu me lembras.