23 julho 2010

POR ACASO

Rabisco o sol
que chuva apagou* e,
Em meio às nuvens pálidas,
desenho teu sorriso cheio de cor.

Nada pode ser
mais instigante
Abre um horizonte
quando miro teus olhos castanhos.

Tamanha é a beleza das formas
que me perco no tempo
Amanheço te observando
sem ter percebido a passagem da noite.


*Trecho de "Giz" - Legião Urbana

11 julho 2010

SEM TEMPO

Colocou o telefone no gancho e sentiu como se tivesse consumado sua última derrota ao ouvir aquelas palavras. O peito parecia encolher a cada vez que respirava. Rangia os dentes num misto de raiva e amor, dor. Deixou a xícara de café pela metade ao lado da máquina de escrever, acompanhada por declarações de amor anotadas em um bloco de papel. Nunca foram ditas.

05 julho 2010

DA CALÇADA

Ela tem os olhos verdes. Me faz perder a compostura a cada vez que me mira. Porém, está distante, separada de mim por um bloco de gelo. Eu, do outro lado da ponte, apenas observo em silêncio, imagino passos dados em minha direção. Tem horas que até penso em desistir. Sento na calçada e me distraio com os pingos de chuva que refletem nas luzes amarelas da rua. Perco-me no tempo. Olho para os lados. Tudo está vazio. A tristeza bate na minha porta, força, tenta abri-la. Não consegue. Saio com meu olhar taciturno pela rua e farejo o cheiro dela. Já se foi. Volto. Pela janela do quarto entra um vento úmido, frio e com sabor de passado. Prontamente a fecho e agarro a última recordação dos seus olhos verdes. Ela continuava naquele ambiente, ocupava cada espaço vivo. Esqueço e durmo ali mesmo, entre os lençóis revirados, atravessado na cama e com os sentimentos na palma de suas mãos. Ela, porém, ainda não sabe.