15 novembro 2012

NÃO SOLTE DA MINHA MÃO

Tenho medo de esquecer a roupa no varal e chover, de deixar a bebida exposta ao sol, de que parem de recolher o lixo, ou de que o vizinho não corte mais a grama e meu quarto encha de mosquitos. Tenho medo de que a tv fique ligada o tempo todo e venha alta a conta de luz, de que a fumaça do cigarro me intoxique até a morte, ou que eu perca a vontade de escrever. Tenho medo de perder a chave de casa, de que roubem os meus cd's do Beatles, a minha camiseta do Chê, de que retirem das paredes meus quadros retrôs, de que adiantem os relógios e você parta antes de meus dias.

Tenho medo de que levem embora as tuas cartas de amor, de perder aquela mensagem bonita que você me mandou naquele domingo em frente ao rio, de desaprender a fazer o chimarrão, de esquecer de passar o café do modo que você gosta. Tenho medo de me desorientar sem tua mão, de deixar a panela por muito tempo no fogo, de temperar demais a salada, de esquecer a porta de geladeira aberta e azedar o leite. Tenho medo de que as coisas que te cercam me esqueçam, de não brincar mais com o cachorro, de não subir mais no pé de jabuticaba, de que tu não lembre do meu aniversário, de que tu me mate aos poucos dentro de ti.

Tenho medo de encontrar velhos e bonitos bilhetes em livros guardados, declarações em cadernos de caligrafia, ou em recibos antigos de supermercado. Tenho medo de esquecer meu riso, de extraviar a minha escova de cabelo, de perder a hora do dentista ou meu cortador de unha, de desligar o celular para não ouvir a função 'soneca' e chegar atrasado na tua formatura. Tenho medo de me perder por aí, de me perder das tuas linhas, de me perder de mim.

07 novembro 2012

ROTO

ando roto pela vida
cabelo no chão do banheiro
chinelos espalhados pela casa
quadros tortos na parede
barba por fazer
unha por cortar
sorriso por se abrir
coração para colar.