19 dezembro 2012

NO VERSO DO COMPROVANTE DE VOTAÇÃO

Bell, hoje encontrei na minha carteira o comprovante da tua votação de 2008. Antes de me entregar tu desenhou um rosto bobo e disse que era o meu. O rosto dizia que eu gostava de ti e eu neguei só por bira. Antes de me entregar tu disse que havia anulado o voto. Disse que a esquerda não era mais a mesma e que naquele instante o protesto era todo teu. Bell, tu lembra que rolávamos de rir ao assistirmos os candidatos na tv? Era um bando de patifes que nos enchiam a boca de xingamentos. Era nossa programação noturna favorita naquela época.

Bell, tu votou este ano? Não sei mais nada de ti. Não sei a cor que tu usa atualmente no cabelo ou se ainda prefere o vermelho nas unhas. Tu ainda carrega aquele botton dos Beatles que te dei? Até tentei, mas não tive coragem de te esperar na frente da tua sessão de votação, número 94, zona 33. Tive medo de tu me ignorar como ignorava quem tentava lhe entregar um panfleto de candidato na rua. Tive medo de tu rir da minha cara besta, das minhas promessas, da minha falta de jeito em frente à câmera. Fiquei sem ação, fiquei em casa, Bell. Fiquei me espelhando na cara boba desenhada no verso do teu comprovante de votação de 2008.

15 novembro 2012

NÃO SOLTE DA MINHA MÃO

Tenho medo de esquecer a roupa no varal e chover, de deixar a bebida exposta ao sol, de que parem de recolher o lixo, ou de que o vizinho não corte mais a grama e meu quarto encha de mosquitos. Tenho medo de que a tv fique ligada o tempo todo e venha alta a conta de luz, de que a fumaça do cigarro me intoxique até a morte, ou que eu perca a vontade de escrever. Tenho medo de perder a chave de casa, de que roubem os meus cd's do Beatles, a minha camiseta do Chê, de que retirem das paredes meus quadros retrôs, de que adiantem os relógios e você parta antes de meus dias.

Tenho medo de que levem embora as tuas cartas de amor, de perder aquela mensagem bonita que você me mandou naquele domingo em frente ao rio, de desaprender a fazer o chimarrão, de esquecer de passar o café do modo que você gosta. Tenho medo de me desorientar sem tua mão, de deixar a panela por muito tempo no fogo, de temperar demais a salada, de esquecer a porta de geladeira aberta e azedar o leite. Tenho medo de que as coisas que te cercam me esqueçam, de não brincar mais com o cachorro, de não subir mais no pé de jabuticaba, de que tu não lembre do meu aniversário, de que tu me mate aos poucos dentro de ti.

Tenho medo de encontrar velhos e bonitos bilhetes em livros guardados, declarações em cadernos de caligrafia, ou em recibos antigos de supermercado. Tenho medo de esquecer meu riso, de extraviar a minha escova de cabelo, de perder a hora do dentista ou meu cortador de unha, de desligar o celular para não ouvir a função 'soneca' e chegar atrasado na tua formatura. Tenho medo de me perder por aí, de me perder das tuas linhas, de me perder de mim.

07 novembro 2012

ROTO

ando roto pela vida
cabelo no chão do banheiro
chinelos espalhados pela casa
quadros tortos na parede
barba por fazer
unha por cortar
sorriso por se abrir
coração para colar.

30 outubro 2012

DO CAFÉ E OUTROS ALUCINÓGENOS

- Açúcar ou adoçante?
- Duas colheres de açúcar, please!

Mexeu o café e me alcançou como se me conhecesse de outras ressacas. Seus olhos, negros como a bebida, mantinham presa minha atenção.

- Experimenta aí pra ver se tá bom assim.
- Bah, tá ótimo, honey. Fico até sem jeito.
- Sem jeito ficaria eu se tu não aceitasse o café, né?!

Ela sorriu. Eu fiquei mesmo desajeitado, fora de eixo, mas fingi firmeza. Era bom nisso. Tomamos o café na tentativa de rebater o gosto do álcool que deixou nossos corpos cansados. Riamos até do avançado das horas, da fuga precipitada do sono enquanto os Stones cantavam baixinho ao fundo.

'she's like a rainbow coming
colors in the air
oh, everywhere
she comes in colors'

Falávamos de generalidades como antigos conhecidos, companheiros envelhecidos como vinho, duas pessoas que se reencontram ao passar de certo tempo para colocar a vida em dia. E, de certo modo, colocávamos. Nos servíamos de diálogos que embriagavam, de risos que despertavam a curiosidade em doses homeopáticas. Ambos livres de prisões sentimentais, de frustrações contemporâneas ou receio do novo que vinha junto com o nascer do dia.

- Bem, acho que nessa hora já tem ônibus.
- Pra quê?
- Acabou o café, o cd chegou ao fim e o reflexo do sol já bate no relógio. A noite cansou e virou dia, não percebeu, honey? Preciso ir nessa.
- Justamente, pra mim ainda é cedo. O domingo tá só espreguiçando os braços, guri. Fica aí e toma outro café, oras! Agora até te ofereço algo pra comer se tu topar.

Deixei escapar um sorriso desconcertado. Ela comemorou a vitória de maneira contida. E ficamos, os dois, a usar o café como desculpa para esticar ao máximo a duração do tempo.

15 outubro 2012

DO LARANJA E OUTROS ALUCINÓGENOS

Quando abriu a janela o dia despertava preguiçoso, como se cansado após uma noite abarrotada de momentos sublimes. O sol abria os braços devagar e banhava sua pele clara em tons laranja, enquanto Harrison murmurava em seu ouvido: “here comes de sun, little darling, here comes the sun…”. No canto do quarto eu permanecia em silêncio, como que anestesiado ao ver o romance entre ela e o sol. Meus olhos registravam cada cena como fotos que não são apagadas com o amarelo do tempo.

04 outubro 2012

BILHETE DE SUPERMERCADO

Ainda guardo comigo aquele último bilhete de supermercado no qual você desenhou um coraçãozinho no verso com as palavras 'tum-tum'. Na época perguntei o motivo e você disse que era o teu e que batia por mim. Falei que não precisava anotar nada, pois me lembraria de todos os itens. No entanto, mesmo assim você me deu aquele pedaço de papel e pediu cebola, bife, arroz, feijão preto, chocolate, e brócolis. Brinquei que o chocolate deveria ser escrito por último na ordem da lista, já que comeríamos depois. Então, ironicamente, ao voltar eu trouxe o chocolate e acabamos o comendo antes de prepararmos a janta. E foi nossa última refeição juntos. E foi doce.

28 setembro 2012

MINHA ÚLTIMA MORTE

era como uma droga
que me fazia falta em momentos
em que eu ficava apenas comigo.
era um processo de cura
de desintoxicação
de resistir às crises de abstência.
era um luto velado
a dor da perda ao enterrar
uma parte bonita de mim.

25 setembro 2012

ATO FALHO

nós tínhamos todas as armas
ouvíamos o mesmo rock,
líamos as mesmas estórias,
ríamos das mesmas desgraças,
criticávamos os mesmos deuses e
carregávamos um amor
que parecia não caber em nós.
bastava sermos felizes...

... mas, falhamos.

05 setembro 2012

FAZ DE CONTA

A vida parecia ser melhor quando o sofá era feito para nós dois, quando dividíamos o mesmo travesseiro, a mesma xícara de café, os mesmos chinelos, a mesma saudade. Quando enganávamos a fome nos domingos chuvosos de inverno e a preguiça tomava conta da cama. Parecia ser mais divertida quando corríamos bêbados pelas ruas nas madrugadas, quando criticávamos a vergonha alheia, quando ríamos de nós mesmos pelas bobagens que blasfemávamos. Parecia ser mais profunda quando refletíamos sobre os dias e as suas alegorias, quando não admitíamos a fé cega, a displicência, o faz de conta. A vida parecia parecer duradoura, se fazia parecer companheira, pareceu que não encontraria tão cedo o fim das horas, e padeceu parecendo que ficaram histórias bonitas para contar.

29 agosto 2012

DO CINZA A OUTROS CAMINHOS INCERTOS

Nunca foi de sorrir por qualquer motivo. Desde sempre a achavam estranha por isso. “Ela parece estar sempre triste”, comentavam aos cantos. Realmente era. Mas não era assim uma tristeza ruim. Esse sentimento fazia parte dela, de seus dias, de suas músicas, livros, filmes, de seu jeito de sorrir. E, por incrível que pareça, era feliz desse modo. Para Mariana aquilo era tudo normal, era como gostar de dias frios e cinzas. Ver o céu gris se confundir com o mar era algo que lhe causava leveza. Sentava na areia e tentava adivinhar onde terminava um e onde começava o outro. Raramente conseguia, mas isso não importava. Preferia pensar que eram bons companheiros. Em dias assim sua mente flutuava, pairava sobre outros horizontes, pensava no não pensar em mais nada.

Mas certo dia Mariana acordou diferente, mais triste que de costume. Era difícil explicar isso também, pois desse tipo de tristeza ainda não tinha experimentado. Era daquelas que doem nos poros e deixam a gente sem vontade de viver, sem pensar no dia seguinte. Não sabia o que fazer. Ligou o rádio, tirou os livros da prateleira, começou a olhar fotos antigas, cartas. Nada adiantou. Não passava, nem um pouquinho. Ela mesma sentia que aquilo não era normal. Não conseguia se concentrar em nada. Tentou caminhar pra refrescar a cabeça. Também não resolveu. Sua mente pulsava. Acompanhava seus passos e as batidas ainda mais tristes de seu coração calejado.

Leu bulas na esperança de encontrar um remédio letal para aquela tristeza que desconhecia, a qual, sentia, pela primeira vez, que não lhe fazia bem. Pelo contrário, deixava seu peito sufocado. Nem isso deu certo. Resolveu então tentar escrever. Lembrou de quando era criança e buscava refúgio nos desenhos. Entretanto, não tinha mais habilidade com as pinturas. Se saia melhor com as palavras.

Assim, trancada no quarto, seu refúgio cotidiano, Mariana pegou uma folha em branco e começou a escrever sua tristeza. E era tanta... Viu logo que aquele pedaço de papel não seria suficiente. Pegou outros, outros e outros. Lá fora chovia, chovia bastante. Ela encheu centenas de folhas, cadernos, os espaços em branco de seus livros de cabeceira, as partes de trás das fotos antigas, das cartas, as paredes do quarto, as portas do guarda-roupa. Quanto mais escrevia mais sentia que necessitava escrever e mais lhe doía aquela tristeza diferente. Era estranho. O vazio no qual se transformou seu peito não enchia nunca.

Passou horas escrevendo e reescrevendo histórias e suas estórias. As letras a cercavam, alucinavam sua mente, embaralhavam seus olhos. Para onde olhasse via escritos das mais diferentes coisas, minúcias, passagens gigantescas.

E, depois de tanto escrever, escrever, escrever, Mariana cansou e sentiu que poderia escrever o mundo inteiro outra vez e mesmo assim aquela tristeza não iria embora. Aquilo não serviu nem mesmo como remédio para amenizar. Deitou e, antes que os olhos enchessem novamente de lágrimas, dormiu. A chuva que caía aumentou como se quisesse acompanhar o sentimento derradeiro de Mariana, e acabou por entrar pelas frestas de sua janela. A água começou a molhar as paredes embaralhadas de palavras de seu quarto e levar consigo cada sentimento, cada letra. E no fim, acabou por lavar cada canto. Escorria por debaixo da cama, passava ao lado de seu vasinho de pimenta – que também estava todo escrito, cada folha, cada galho -, ia em direção à sala, ao corredor do prédio, descia as escadas e formava um pequeno lago no quintal. Subia os muros altos e com grades do condomínio e voltava a descer, dessa vez com direção da rua.

Debaixo de seus guarda-chuvas, dentro de seus carros ou escorados em suas varandas, as pessoas não entediam o que viam. Era como se a água chorasse palavras de tristeza e escorre-se sem rumo e nem previsão de chegada.

19 agosto 2012

TALVEZ

Talvez nem fizesse tanta diferença se viesse a saber. Certo mesmo é que a cada vez que aparecia fazia nascer e renascer borboletas em meu estômago. E talvez nunca a viesse a saber.

14 agosto 2012

04 agosto 2012

QUE TU ME LEMBRAS

e quando eu estiver triste, meu amor,
não tentes colar um sorriso em meu rosto
não tentes colorir o meu desgosto.

apenas me traga um café,
sente ao meu lado
e me lembres,
com carinho...

que tu me lembras.

25 julho 2012

PUNIÇÃO

um dia sem o castanho
dos teus olhos
sem a graça 
do teu riso
sem tua pele
teu pêlo
teu cheiro
teu cabelo...

... não é vida,
é punição!

22 junho 2012

ANTES DO DERRETER DAS ASAS

Quando estendeu a mão eu prontamente aceitei. Não havia como recusar o convite de fugir para o mais longe do longe. Afinal, logo a manhã chegaria e o sol derreteria nossas asas, levaria às cinzas os devaneios noturnos que tivemos num universo surreal.

- Venha, vamos rápido antes que o cantar dos pássaros nos acorde e nos devolva a esse mundo formatado e gris. Venha, é tão lindo esse caminhar torto que envergonharia a tantos sem espírito.

Não exitei e tampouco medi meus passos a caminho do destino sem destino. Queria correr mais rápido que o relógio, derrotar a pontualidade absurda das horas, esticar o tempo ao máximo até que chegasse o momento de o mundo acordar e preencher seus duros prédios de concreto com sonhos impedidos, perdidos.

Carreguei a sacola com os minutos que havia guardado, caso precisasse deles, a peguei pelo braço e partimos. Voamos, livremente, contra a chegada do sol.

11 junho 2012

SILÊNCIO

'Silencio, que estan durmiendo
los nardos y las azucenas
no quiero que sepan mis penas
porque si me ven llorando moriran'
*

Dançava há anos o antigo bolero, sozinha, sobre o tapete de um vermelho desgastado na sala. O abajur, à meia-luz no canto do cômodo, era o único companheiro das noites solitárias. Acreditava não saber mais como bailar a dois. Porém, seguia dançando..


*Silencio - Ibrahim Ferrer

21 maio 2012

COMO UMA CANÇÃO DOS BEATLES

Fumava num canto da cozinha enquanto eu separava o pó para preparar o café. Em algum momento lhe perguntei qual xícara preferia, mas sabia que gostava da bebida com pouco açúcar. Ela batia as cinzas do cigarro na fresta da janela e me contava um problema qualquer do seu dia cansado. Os cabelos castanhos longos e molhados depois do banho lhe caiam sobre o rosto e pareciam me convidar para que eu me aproximasse e os ajeitasse com uma das mãos. Os olhos verdes reforçavam o pedido. Eu a via falar e falar e falar e pensava como tinha se transformado num personagem para os melhores enredos de textos que ainda escreveria. A fotografia daquela noite gelada de abril ainda me inspira. E, ao fim de tudo, me dei conta de que ela havia se tornado o sentimento saudoso e inexplicável que as canções dos Beatles me traziam.

16 maio 2012

PRÓXIMO TREM

Empurrei a porta
Parti pelo corredor
Corri das lembranças que me seguiam
E a luz do dia me cegava.
Segui.
Tropecei, levantei.
Ah! Um grito
Misto de raiva e dor.
Inábil coração
Oração de mãos coladas
Então separadas.
Calor
Sufoco
Foi por pouco,
Amor ator.
Partida
Só de ida
Sozinha
E, agora?
A mesma estação
Uma nova linha.

07 maio 2012

NAS TARDES DE DOMINGO

Arrumei tua mala com todo o carinho restante e olhe, meu querido, não é pouco. Dentro até  coloquei umas folhas secas de acácia para perfumar. Quero que tu vás bem, de cabeça erguida, limpo. Teus óculos escuros estão no bolsinho da frente. Certamente tu o usarás nestes dias claros. Aliás, tenho a impressão de que este sol do inverno parece deixar as manhãs mais coloridas, com mais vida. É disso que precisamos, vida. Por isso, parta e não te preocupes comigo, não te preocupes se eu ficar partida. E, se por acaso perguntarem por mim, apenas digas que fiquei bem, sóbria, embora pela metade.

E eu sei que sentirei tua falta nas tardes de domingo...

27 abril 2012

GRACIAS POR EL FUEGO

Risquei o último fósforo e saí pela casa procurando um lugar confortável para descansar. A chama iluminava pouco, mas o suficiente para eu poder caminhar por entre os cômodos empoeirados. Andei por horas. Nada. Não encontrei um canto se quer. Estranhamente, mesmo pálida, a chama continuava a me acompanhar. 

O silêncio do local era ensurdecedor e o vazio imperial transbordava sobre minhas costas cansadas. Em meio à escuridão, a chama, cada vez mais escassa, contrastava com meus olhos castanhos, baixos, prófugos. Fechei-os. Assim podia imaginar o que quisesse e com a luz que desejasse. Entretanto, sabia que difícil seria novamente abri-los para a realidade. 

No fim, acabamos por desistir. A chama e eu. Senti seu calor acariciar a ponta dos meus dedos. Antes que  ela morresse de vez aproveitei para acender um cigarro. Fumei-o como se fosse o último. Tive a impressão de que realmente era. Ela apagou. Eu nunca mais abri meus olhos.

17 abril 2012

QUANDO TUDO PARA

e quando meu corpo cola no teu
quando teu cabelo mistura no meu
quando minha voz encontra tua fala
e a sintonia toma conta da sala

eu nem me importo com as linhas
as cores, a pintura ou a tela

e não me faz mais diferença saber
o que ocorre
do lado de fora da janela.

10 abril 2012

30 março 2012

CRÔNICA DA INSUFICIÊNCIA

“Preciso escrever e não consigo.
Você pode sair um pouco de minha mente?”


Naquela madrugada essas foram as duas únicas frases que consegui escrever. Entretanto, elas encheram a página, transbordaram no ambiente e deixaram a imagem dela ainda mais impregnada nas paredes da casa. Parecia sentir seu cheiro. Poderia jurar. A máquina de escrever era a companheira de noites febris invadidas pela melancolia, insuficiência e doses de conhaque.

22 março 2012

GRIS PERFEITO

"Os olhos dela buscam calmaria
Nos dias imaculados pela eminência da chuva.
Carregam junto um sorriso que se abre
Ao ver o céu, pálido, abraçar o mar"
.


Mariana viu as frases escritas num muro de seu bairro e, por um instante, achou que haviam sido perfeitamente desenhadas para ela. Chegou a ficar em dúvida se realmente não eram. Mas, poderia ser apenas coincidência, afinal, talvez ela não fosse a única a gostar de dias assim. E sorriu. Virou as costas e se foi. Levava como companhia um céu riscado com nuvens grises que acariciavam seu rosto largando leves pingos de felicidade.

13 março 2012

BOM DIA

Quando despertou eu já a observava há um longo tempo. Aquele espreguiçar preguiçoso e o rosto de sorriso amanhecido enchiam meus olhos. Certo é que seria capaz de permanecer ali pelo tempo que a vida desejasse.

22 fevereiro 2012

JOGO

eis que ela me mira
com aquele olhar baixo, direto
e eu vago, vago, vago...
perco a compostura.

deixo o conforto do meu eixo,
penso no próximo passo,
e minto para mim que ainda tenho
o controle da situação.

ela? não...

ela corre, desliza, instiga
e provoca o desafio.

saio da minha zona de equilíbrio,
luto, brigo e, ao fim,
entrego as peças do jogo...

então, convencida, ela vence
sem que, sinceramente,
eu tenha perdido.

13 fevereiro 2012

06 fevereiro 2012

RODOVIA DE MÃO ÚNICA

eu era uma rodovia de mão única
pela qual trafegavam
os caminhões de mudança
e levavam consigo as placas de direção.

24 janeiro 2012

ENGANO

adormeci entre taças de vinho e
sobre dezenas de crônicas
que não consegui dar fim.
em cada letra do diário
pensava ver o rosto dela
desenhado em tons sépia.
certo é que a solidão
era um engano causado
pela distância entre nossos corpos.

11 janeiro 2012