19 junho 2018

URGÊNCIAS

não perca tempo
fechando a porta
arrumando a mala
dizendo adeus
a pequenas miudezas.
corre, vem
porque eu
tenho problema
em esperar
porque eu sofro
de urgências.

12 junho 2018

MONÓLOGO COM A POEIRA

Entre. Só não repare na bagunça, por favor. O coração anda um pouco empoeirado, eu sei. É que tenho mantido a janela sempre aberta para ventilar, mas o céu tem demonstrado quase nada de vontade em perder o tom cinza. Tem horas que até me sinto naquela parte de Cem Anos de Solidão, na qual chove por anos. Olha lá, outra moça passeando com o seu guarda-chuva em tom pastel.

Bah, que grosseria da minha parte. Tu aceita um chá? Putz, deixa eu te contar que peguei esse costume irlandês de misturar um pouco de leite ao chá. Sim, é verdade que os britânicos dizem que esse hábito é deles. Whatever...

Por falar em costume, continuo escrevendo parágrafos curtos, como tu pode ver. Acho que eles deixam os textos mais leves e fáceis de ler. Sim, sei, meu problema continua sendo os finais. Parece que sempre está faltando algo, como tu me dizia. Aliás, tu ainda escreve? Sempre gostei dos teus minimalismos, da tua maneira de ver poesia até mesmo no mau-humor de um gato.

Não posso negar que senti a tua falta, mas me acostumei. Assim como aqueles senhores que passam o dia sentados num banco esperando a tarde cair. E, assim como o laranja que antecede a noite, tu veio. Nem que seja apenas para pegar o pouco que sobrou e levar embora o quadro da Elis e o teu wayfarer vermelho, que ainda dá um pouco de cor à casa. Mas tu veio.