27 abril 2012

GRACIAS POR EL FUEGO

Risquei o último fósforo e saí pela casa procurando um lugar confortável para descansar. A chama iluminava pouco, mas o suficiente para eu poder caminhar por entre os cômodos empoeirados. Andei por horas. Nada. Não encontrei um canto se quer. Estranhamente, mesmo pálida, a chama continuava a me acompanhar. 

O silêncio do local era ensurdecedor e o vazio imperial transbordava sobre minhas costas cansadas. Em meio à escuridão, a chama, cada vez mais escassa, contrastava com meus olhos castanhos, baixos, prófugos. Fechei-os. Assim podia imaginar o que quisesse e com a luz que desejasse. Entretanto, sabia que difícil seria novamente abri-los para a realidade. 

No fim, acabamos por desistir. A chama e eu. Senti seu calor acariciar a ponta dos meus dedos. Antes que  ela morresse de vez aproveitei para acender um cigarro. Fumei-o como se fosse o último. Tive a impressão de que realmente era. Ela apagou. Eu nunca mais abri meus olhos.

17 abril 2012

QUANDO TUDO PARA

e quando meu corpo cola no teu
quando teu cabelo mistura no meu
quando minha voz encontra tua fala
e a sintonia toma conta da sala

eu nem me importo com as linhas
as cores, a pintura ou a tela

e não me faz mais diferença saber
o que ocorre
do lado de fora da janela.

10 abril 2012