06 dezembro 2011

19 novembro 2011

ENQUANTO VOCÊ NÃO VINHA

(Mesmo depois de tanto tempo eu ainda me perguntava se você voltaria)

Me debrucei sobre a janela do quarto na esperança de a ver subir pela rua lateral que dava acesso à nossa casa. Fazia frio e tive que dar mais uma volta no cachecol. As pessoas circulavam com sacolas de mercados e outras carregavam seus guarda-chuvas para se protegerem do céu cinza enquanto você não vinha. Reparei que o semáforo da esquina ficava aberto aos carros por 1 em cada 3 minutos, o que dava 20 minutos em uma hora. Nesse tempo não a vi em nenhum dos carros que pararam no sinal e muito menos a vi atravessar a rua entre os pedestres.

Nena, não sei se você algum dia notou, mas alguns cantos da janela do nosso quarto necessitam de reparos. A tinta está velha e até consegui rabiscar seu nome depois de tanto repetir as formas das letras forjando com a unha do meu dedo indicador esquerdo. O único momento em que a fechei foi quando começou a chover. Logo pensei em sair ao seu encontro. Fiquei com medo de que você não tivesse como se proteger daquela água que caia intensamente. Cheguei a abrir a porta e apagar a luz da sala, mas fiquei com receio de que aquilo parecesse desespero e impedisse sua volta, pois você precisava der ar, não é?

Desisti e resolvi ir à cozinha preparar um café para nós dois, mas do jeito que você gostava. E ali fiquei esperando, sentado à mesa, enquanto a bebida esfriou, assim como esfriou minha esperança e não a vi voltar.

(Todas as manhãs ainda abro a janela e reparo nos rostos que cruzam o sinal. Nunca a reformei e seu nome continua lá rabiscado).

06 novembro 2011

DESPERTAR SAUDOSO

Levantei da cama na ponta dos pés e vesti-me com destreza, sem cometer movimentos bruscos. Levei meu all star branco pela mão e fechei vagarosamente a porta do quarto, evitando o menor ruído possível. Pensei ter saído sem acordá-la, enquanto ela lamentava a falta de meus braços.

20 outubro 2011

INSTANTE RETRÔ

Gostava de mascar chiclete com sabor de melancia. Confesso que nunca entendi a estranha preferência. Certa vez me disse que daquele modo sentia menos o gosto de cigarro de minha boca. Já eu sentia cada vez menos o gosto do beijo dela. Um dia até a prometi parar de fumar. Ela desapareceu de minha vida antes que isso acontecesse.

- Boa tarde! O que é para você, rapaz?
- Quero um chiclete. Pode ser aquele ali...
- Este de limão?
- Não. O de embalagem vermelha e verde.
- Ah, sim, o de melancia...
- É...
- Custa R$ 1,00. Cigarros também?
- Não, grato.
- De nada.
- Até mais.

05 outubro 2011

TARDE QUENTE DE INVERNO

Tarde quente de inverno,
Café gelado para matar minha sede.
Ah, que falta ela me faz! 
O que faria eu agora a seu lado?
A distância do tempo impede que minha mente conceba algo... 

O relógio marcava 11h38. Fazia calor naquela manhã de inverno. Acordei suado e de mau humor. Percebi estar meio cabisbaixo também. Acreditei ser reflexo do final triste do livro que acabei de ler na noite anterior. É uma pessoa triste com vocação para ser alegre*, dizia uma passagem da história. Como me caia bem.

*A trégua – Mario Benedetti

23 setembro 2011

A MIM

Me olhe
Me ouça
Me sinta
Me tenha
Me beba
Me mastigue
Me exprima
Me leve
Para dentro de ti.

10 setembro 2011

INVERNO DE 68

Dos teus olhos de ressaca
Me ficaram as gratas lembranças
Das tardes em que fomos
Felizes para sempre e

Dos segundos infinitos de calmaria,
Assim como os planos de velhice a dois
Em contos infantis
Com sonhos puramente alcançáveis.

Nas milhares de páginas
Que escrevi depois de acordado
Ficaram as doces marcas

E nelas resolvi não tocar
Para que o calor daquele inverno
Voltasse, às vezes, a aquecer minh'alma.

18 agosto 2011

DISTANTE

acordei longe

meu espírito
deixou meu corpo distante,
distante...

migrou sem destino
em busca dos sentimentos que perdi.

06 agosto 2011

NÃO LEVE A MAL, HONEY

Não leve a mal, honey
Mas não preciso mais
Do teu grito
Dos teus mitos
Da tua falta de amor.
Não me deixa saudade
Tua fobia
A falta de alegria
O receio da dor.
Cansei do teu cansaço
Do teu embaraço
Do teu riso sem cor.
Perdi a vontade
Da tua pele
Do teu pêlo
Dos teus apelos.
Perdi a vontade...
De ti.

17 julho 2011

NUMA TARDE DE INVERNO

era como se a nostalgia
me deixasse triste
ao ver sua foto ao chão
depois de cair
de um livro de Galeano
há tempos esquecido na estante.

08 julho 2011

PARA QUANDO VOCÊ PARTIR

Quando você for, meu amor, peço que vá por inteiro. Saia de manso, carregue o que é seu e me esqueça de vez. Mas leve tudo. Se precisar, compre novas malas e preencha cada espaço com coisas que não serão mais úteis para mim quando não existir mais nós dois. Carregue os frascos de perfume que lhe dei e os quadros, mesmo que fiquem espaços mais claros na parede por causa do tempo, que também desbotou nosso amor. Não deixe para trás pretextos para voltar, pois não lhe quero mais em meus braços, mesmo que meu corpo implore o contrário. E, ao sair, encoste a porta, porém, não esqueça de deixar antes para mim a sua chave. Preciso de garantias. E fique tranquila, do resto eu tomo conta, juro que tentarei. Seu cheiro irá sumir, os móveis da sala mudarei de lugar, os bilhetes apaixonados guardarei longe dos olhos. E as lembranças que surgem como flashes aos olhos fechados? Bem, essas eu ainda não sei o que farei.

01 junho 2011

22 maio 2011

(IN) PRECISO JARDIM

preciso plantar flores em meu jardim...

mas,
preciso mesmo,

de um lugar
(in) preciso...

... de um jardim

para cultivar.

13 maio 2011

DO QUE SOBROU

Aos poucos fui juntando os cacos do que sobrou. As migalhas vari para debaixo do tapete na esperança de esconder tudo, mesmo sabendo que de mim seria praticamente impossível. No fim, senti falta de tuas mãos para tentar me ajudar a colar os pedaços que formavam o nosso todo.

27 abril 2011

NORTE

sim, honey,
me perdi de teus braços
quando havia me encontrado em vida.
e, desorientado em terra estranha,
me dei conta que teu riso era meu norte,
meu mar de águas calmas.
agora velejo, apenas,
sob pingos pálidos
em dias de céu com nuvens.

08 abril 2011

AINDA MAIS BONITA

Separou o vestido que ele mais gostava, escolheu os sapatos vermelhos e a fita para colocar no cabelo. Se perfumou e, antes de sair, pegou os óculos Wayfarer para encarar de frente aquela tarde com sol de primavera. Queria mostrar como ainda estava bonita.

Talvez esbarrasse nele pelo caminho e se desculparia com aquele sorriso enorme, cheio de dentes. Diria 'olá, perguntaria 'como vai a vida?', se questionada afirmaria 'estou bem' e diria 'até logo', quem sabe um 'foi bom te ver'. Iria embora com uma feição feliz de quem tem a vida na palma da mão. No entanto, não olharia para trás. Não queria correr o risco de ele a ver com os olhos vermelhos de saudade.

01 abril 2011

PARA TODO O SEMPRE

Tinha os olhos baixos quando disse ‘até logo’. Sabia que, na verdade, era para todo o sempre. Não carreguei quase nada comigo, a não ser a lembrança dos planos que não deram certo e um velho livro com crônicas de Galeano. Saí e deixei a casa como estava, com cada canto arrumado do jeito que foi nosso.

24 março 2011

QUANDO O AMOR PASSAR

enquanto espero o amor passar
engaveto cada memória do teu riso
sigo silencioso para fazê-lo calar
em passos lentos, imprecisos.

de mim tento esconder
a falta do teu olhar castanho
e, incerto do que fazer,
caminho, trôpego, em horizonte estranho.

dentro da medida
em noites sem sono
sigo de cabeça erguida

mas quando volto à vida
de outono solitário
ainda carrego o gosto da despedida.

11 março 2011

DAS COISAS QUE DEIXEI

Lembra daquela tarde em que caminhamos sobre a areia fria num dia de inverno? Garoava e você reclamou por causa do teu cabelo. Logo você que não gosta de areia também. Sim, sei, fui eu quem insistiu, e você topou como em tantas outras vezes. E daquela noite em que fomos felizes para sempre com nossas garrafas de vinho tinto, recorda? Nós nunca prestávamos atenção nos filmes que combinávamos ver. Claro, você sabe, não esqueci de nada. Aliás, viro noites em claro pensando em tudo que deixei. E a fuga que planejamos juntos, a casa, o cachorro, os quadros dos Beatles na parede? Bem, está tudo aqui, inclusive a foto do Harrison cantando "I need you" para ti.

24 fevereiro 2011

ILHA DA UTOPIA

... e, por alguns instantes, a vida se resume a uma ilha de lembranças perdida em mar aberto.

29 janeiro 2011

DO ATÉ BREVE

digo adeus de maneira passional
me despeço aos poucos, aos poucos.
levo cada esquina em mente,
meus discos, livros
e as saudades mais bonitas.
carrego ainda um pedaço da tua vida
que hoje é meu, somente meu.

tristeza, não.

levo ainda as tardes de chuva
os pingos na janela
as madrugadas nuas
e uma mala com vários espaços
para preencher.

20 janeiro 2011

JARDIM DE VERÃO

Se quiser
Abra a porta, entre
Este sou eu
As marcas que você conhece
O sorriso que se faz
Ao apreciar teus traços cheios de vida.
Teus olhos me verão
Da maneira que você decidir.
Pode ser em mensagens
Abreviadas pelo tempo
Ou em tua mesa de café
Em manhãs abraçadas de cumplicidade.