27 dezembro 2010

sim, baby,
me deixe só.
hoje me basto.
quero apenas
esse cigarro
e as doces
doses de conhaque
que me saciam...

lentamente.

não quero nada
sequer preciso de algo mais.
então, me deixe...

só.

22 dezembro 2010

ÚLTIMA PASSAGEM

Quando estendi a mão não tive mais tempo para alcançá-la. Com os olhos vermelhos, havia partido e levado consigo uma mala cheia de sonhos quebrados, pela metade. Sem me conformar com o adeus, fiquei ali sentado pelo resto da vida esperando seu retorno. A chuva que a acompanhou na viagem nunca mais parou de cair em minha janela.

05 dezembro 2010

NOITE

A lua cheia penetrava pela janela entreaberta do quarto e iluminava seu corpo nu, como se o admirasse. No fim, éramos dois a contemplar.

14 novembro 2010

FIM

E deixamos os segundos
Impedirem nossas vontades
Por termos inventado
A falta de tempo.

20 outubro 2010

AS LOUCAS AVENTURAS DE MUDANÇA DE UM CORAÇÃO ACOSTUMADO COM A BRISA FRESCA DO MAR AO FIM DO INVERNO

O sol baixo da manhã refletia no mar calmo
Enquanto o dia se espreguiçava lentamente.
Todas as cores se resumiam ao prata do encontro
Que parecia dar o tom de novos tempos.
Talvez fosse difícil dizer adeus
Ao gelo que derretia lentamente
Com o calor de fim de outubro.

28 agosto 2010

DOCE AMARGO

aprecio teus olhos
como um café
ao fim da tarde
e tua pele
como um sorriso
ao fim da vida.
bebo teus traços
em goles vagarosos
degustando
o doce amargo do teu corpo.

17 agosto 2010

10 agosto 2010

CARNE

A carne que tanto apreciei
Hoje me nauseia.
Por tua carne
Me tornei vegetariano.
E me entristece lembrar
Que dela me servi como prato principal.

02 agosto 2010

MATE AMARGO

O mundo fora de casa
E a casa num mate amargo
Afago nostálgico de infância.

Lá, são as mesmas as ruas,
As luas
As madrugadas nuas.

Aqui é sempre o novo
Cada amanhecer,
Até mesmo o envelhecer.

E, assim, saudoso, sigo divido
Entre aqui e lá
A vida e o lar.

23 julho 2010

POR ACASO

Rabisco o sol
que chuva apagou* e,
Em meio às nuvens pálidas,
desenho teu sorriso cheio de cor.

Nada pode ser
mais instigante
Abre um horizonte
quando miro teus olhos castanhos.

Tamanha é a beleza das formas
que me perco no tempo
Amanheço te observando
sem ter percebido a passagem da noite.


*Trecho de "Giz" - Legião Urbana

11 julho 2010

SEM TEMPO

Colocou o telefone no gancho e sentiu como se tivesse consumado sua última derrota ao ouvir aquelas palavras. O peito parecia encolher a cada vez que respirava. Rangia os dentes num misto de raiva e amor, dor. Deixou a xícara de café pela metade ao lado da máquina de escrever, acompanhada por declarações de amor anotadas em um bloco de papel. Nunca foram ditas.

05 julho 2010

DA CALÇADA

Ela tem os olhos verdes. Me faz perder a compostura a cada vez que me mira. Porém, está distante, separada de mim por um bloco de gelo. Eu, do outro lado da ponte, apenas observo em silêncio, imagino passos dados em minha direção. Tem horas que até penso em desistir. Sento na calçada e me distraio com os pingos de chuva que refletem nas luzes amarelas da rua. Perco-me no tempo. Olho para os lados. Tudo está vazio. A tristeza bate na minha porta, força, tenta abri-la. Não consegue. Saio com meu olhar taciturno pela rua e farejo o cheiro dela. Já se foi. Volto. Pela janela do quarto entra um vento úmido, frio e com sabor de passado. Prontamente a fecho e agarro a última recordação dos seus olhos verdes. Ela continuava naquele ambiente, ocupava cada espaço vivo. Esqueço e durmo ali mesmo, entre os lençóis revirados, atravessado na cama e com os sentimentos na palma de suas mãos. Ela, porém, ainda não sabe.

28 junho 2010

BOA SORTE

E, quando abri os braços para deixá-la ir, percebi que, de alguma forma, continuaria ali por algum tempo. Era impossível me livrar do vício, assim, de um instante para o outro. Virei as costas, quis evitar seus olhos. Mesmo em fuga, ela ainda queria um último adeus, o calor de mais um abraço. Não cedi. Ela se foi. Ficou apenas o gosto amargo e a vontade tardia de transformação.

22 junho 2010

MEU JAZZ

Desse jazz que me inunda
Ouço cada nota e
Viajo para teus braços.
Dessas ruas que me levam a ti
Gravo cada esquina em mente
Para nunca me perder de tua vida.

01 junho 2010

VOO RASO

Vento gelado
Em voo raso
Seus olhos castanhos
Meu sorriso fácil
E nesta noite
Aparecerá novamente em meus sonhos?

17 maio 2010

VIAJANTE DEVANEIO EM MADRUGADA FEBRIL

Doce inspiração
Que me faz respirar
Me faz escrever.
Louca obsessão
Que em cantos e contos
Me faz te descrever.

04 maio 2010

NADA DE MAIS

Não é nada de mais
Sequer preciso de algo mais
Apenas me venha assim
No breu, no café
No silêncio oportuno
De palavras não ditas.
Na calmaria
De um amanhecer de outono
Na brisa
Na garoa
Nas notas
De um rock latino-americano.
Não importa como
Somente venha
Me tenha
E mantenha
Esse jeito que me mantém
Preso à tua vida

25 abril 2010

CRISES DE (IN)CONSCIÊNCIA

Crônica de uma viagem ao redor de tua cama. Rabisco a ideia de título em um bloco de papel como se desenhasse teu corpo, teus traços latinos. Isento-me da luta contra mim mesmo e busco redenção na tua pele, em teus cabelos negros, no castanho de teus olhos. Sigo pelo cômodo vazio enquanto minha mente fantasia situações, diálogos, me embriaga. Tento dar vazão à minha loucura, saio à rua e me vejo cercado pelo cinza, o dia, o céu, o mar daquela imaculada tarde de outono. Isolo-me no andar mais baixo da grande avenida e sento num banco solitário do qual sou capaz de visualizar os anos que me faltam. Acendo um cigarro e vago, sentado, pelo mundo que te cerca. Nitidamente entregue ao vício a vejo aparecer entre um flash e outro. E, assim, febril, espero a noite chegar acompanhado de um sorriso que teima em me fazer companhia.

17 abril 2010

TEU GOSTO

Te procuro pelas ruas
Sinto teu cheiro
Quero experimentar teu gosto
Te colar em mim
Em um só pulso
E gotas de suor.

01 abril 2010

FRAGMENTO

Poderia eu
Ser um fragmento
De sua literatura?
Um dia de calor e frio
Com cheiro de mar
Brisa e garoa?

Um recorte
De seu livro de estórias
Poesia de rima fácil
Parte da sua música?

Poderia eu
Cativar seu riso
Silenciar seu choro?
Velar seu sono
Proteger sua noite
Com gosto de café quente?

Poderia eu?

25 março 2010

BANCO

Se lhe visse aqui
Sentada a meu lado
De lenço
Nesses cabelos negros

Se pudesse lhe sentir
Nesse frio de maio
Ombro a ombro
E café quente

Juraria desse banco
Não mais levantar.

20 março 2010

EFECTO

Abro os braços e peço licença aos céus. Deixo a chuva acariciar minha face enquanto sigo para qualquer direção que me tire dessa bolha sem ar. Ah! Como é bom sentir o frio que gera esse clima sublime... Meu sorriso, antes taciturno, agora abre o caminho. Sigo, ando, tropeço, continuo. Minha mochila ainda está cheia, mas não pesada como antes. Logo ela, assim como eu, descansará em paz.

19 março 2010

MÚSICA SEM REFRÃO

Eu tentei buscar
Qualquer ajuda
Pra te esquecer, meu bem
Mas não foi fácil
Descolar você de mim
Era mais forte
Do que eu mesmo imaginei.
E mesmo sem pensar
Tudo era feito
Pra te agradar, meu bem.
Mesmo sem vê-la
Sempre estava junto a mim
Em cada verso
Em minha história sem fim.
E a vida assim passou
E minha espera terminou
Sem ter você
E não foi fácil descolar você de mim
Era mais forte do que eu mesmo imaginei
E agora ando assim
Sempre atrasado
E esperando o sol se pôr
Com passos tortos
Sem saber a direção
De braços dados
Com eu mesmo por aí.

22 fevereiro 2010

MERCÚRIO CROMO

E o tempo, meu querido blog, é mercúrio cromo
Assim como já dizia o cantor*
E por isso, meu blog,
Fiel confessionário de minhas variações emocionais
A ti peço um tempo
A ti propicio um tempo
Para que separados,
Mas ainda assim juntos,
Possamos novamente respirar
E para que, talvez um dia,
Lado a lado possamos outra vez navegar.

*Renato Russo - La nuova gioventú