19 dezembro 2012

NO VERSO DO COMPROVANTE DE VOTAÇÃO

Bell, hoje encontrei na minha carteira o comprovante da tua votação de 2008. Antes de me entregar tu desenhou um rosto bobo e disse que era o meu. O rosto dizia que eu gostava de ti e eu neguei só por bira. Antes de me entregar tu disse que havia anulado o voto. Disse que a esquerda não era mais a mesma e que naquele instante o protesto era todo teu. Bell, tu lembra que rolávamos de rir ao assistirmos os candidatos na tv? Era um bando de patifes que nos enchiam a boca de xingamentos. Era nossa programação noturna favorita naquela época.

Bell, tu votou este ano? Não sei mais nada de ti. Não sei a cor que tu usa atualmente no cabelo ou se ainda prefere o vermelho nas unhas. Tu ainda carrega aquele botton dos Beatles que te dei? Até tentei, mas não tive coragem de te esperar na frente da tua sessão de votação, número 94, zona 33. Tive medo de tu me ignorar como ignorava quem tentava lhe entregar um panfleto de candidato na rua. Tive medo de tu rir da minha cara besta, das minhas promessas, da minha falta de jeito em frente à câmera. Fiquei sem ação, fiquei em casa, Bell. Fiquei me espelhando na cara boba desenhada no verso do teu comprovante de votação de 2008.