22 junho 2012

ANTES DO DERRETER DAS ASAS

Quando estendeu a mão eu prontamente aceitei. Não havia como recusar o convite de fugir para o mais longe do longe. Afinal, logo a manhã chegaria e o sol derreteria nossas asas, levaria às cinzas os devaneios noturnos que tivemos num universo surreal.

- Venha, vamos rápido antes que o cantar dos pássaros nos acorde e nos devolva a esse mundo formatado e gris. Venha, é tão lindo esse caminhar torto que envergonharia a tantos sem espírito.

Não exitei e tampouco medi meus passos a caminho do destino sem destino. Queria correr mais rápido que o relógio, derrotar a pontualidade absurda das horas, esticar o tempo ao máximo até que chegasse o momento de o mundo acordar e preencher seus duros prédios de concreto com sonhos impedidos, perdidos.

Carreguei a sacola com os minutos que havia guardado, caso precisasse deles, a peguei pelo braço e partimos. Voamos, livremente, contra a chegada do sol.

11 junho 2012

SILÊNCIO

'Silencio, que estan durmiendo
los nardos y las azucenas
no quiero que sepan mis penas
porque si me ven llorando moriran'
*

Dançava há anos o antigo bolero, sozinha, sobre o tapete de um vermelho desgastado na sala. O abajur, à meia-luz no canto do cômodo, era o único companheiro das noites solitárias. Acreditava não saber mais como bailar a dois. Porém, seguia dançando..


*Silencio - Ibrahim Ferrer