21 maio 2012

COMO UMA CANÇÃO DOS BEATLES

Fumava num canto da cozinha enquanto eu separava o pó para preparar o café. Em algum momento lhe perguntei qual xícara preferia, mas sabia que gostava da bebida com pouco açúcar. Ela batia as cinzas do cigarro na fresta da janela e me contava um problema qualquer do seu dia cansado. Os cabelos castanhos longos e molhados depois do banho lhe caiam sobre o rosto e pareciam me convidar para que eu me aproximasse e os ajeitasse com uma das mãos. Os olhos verdes reforçavam o pedido. Eu a via falar e falar e falar e pensava como tinha se transformado num personagem para os melhores enredos de textos que ainda escreveria. A fotografia daquela noite gelada de abril ainda me inspira. E, ao fim de tudo, me dei conta de que ela havia se tornado o sentimento saudoso e inexplicável que as canções dos Beatles me traziam.

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