18 maio 2015

BOM DIA

Ela reclama de meu silêncio enquanto mastigo as suas palavras no café da manhã. Mato a fome devagarinho, como quem não tem pressa em terminar de ler o jornal. Seus olhos castanhos, grandes, me enquadram diante de minha expressão quieta.

- Me passa o açúcar, por favor - peço.
- Só se você adoçar essa cara amassada - me retruca imediatamente enquanto mantém o pote suspenso no ar com sua mão esquerda e tenta me tirar um sorriso.
- Não é questão de humor. Nem bom, nem ruim. Só não gosto de ficar conversando logo cedo - a respondo enquanto preparo minha bebida.
- Tá, sei... - murmura.
- Ok, então. Se você sabe, estamos ok - afirmo, cínico, tentando terminar o assunto.
- Ei, fui irônica - diz ela num princípio de fúria e dessa vez com expressão cerrada.

Levanto meus olhos e a miro. Ela move os dela para uma outra direção bem distante de mim. Me ignora.
Eu, então, rio. Me delicio.

- Besta - me xinga enquanto usa o dedo para trocar de lugar os farelos de pão sobre a mesa.
- Bom dia, meu bem! - digo enquanto levanto e beijo sua testa.

E iniciamos, assim, o dia.

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